Não falarei mais nada.
Não direi mais nada até o nada chegar.
Porque não sou grato.
Porque não sou santo.
Porque não sou digno.
Porque não sou disposto.
Porque não tenho paixão.
Porque não suporto o outro.
E porque o por que não tem porque,
vou falar somente o que é de sobreviver.
E pra dizer o mínimo, meia dúzia de palavras bastarão.
Tô cansado da gente amedrontada com o que vou dizer.
Tô cansado de me opor à piedade.
Tô cansado de reagir à mentira da compaixão.
Tô cansado de defender meu universo bardo de auto-suficiência.
Tô cansado da minha vidinha cansando.
Tô cansado da minha vidinha cansando.
Tô cansado de resistir.
Vou dizer 'obrigado' pra qualquer coisa.
Vou tratar a todos como quiserem.
Vou dar 'bom dia' a qualquer um.
Vou aceitar os acordos corruptos.
Vou elogiar a arte desonesta.
Vou manter as contas em dia.
Vou adoecer de tanto trabalhar.
Vou silenciar sobre as crenças.
Vou deixar que me usem para ascenderem ao céu da bondade.
Vou fazer lentamente somente o possível.
Vou aceitar o castigo da cidade.
Vou comer a ração comum do povo.
Vou trabalhar sem reclamar.
Vou pedir. Até chegar as raias da humilhação.
Vou concordar com qualquer ato ou opinião.
Não comemorarei aniversários.
Não celebrarei datas.
Não informarei mais sobre os danos do mundo.
Não ressignificarei conceitos esquecidos.
Não inovarei projetos.
Não saberei mais tanto.
Serei apenas suficiente.
Serei para as demandas possíveis de atender.
E quando não conseguir atendê-las, serei infeliz.
Esse será o meu ritual até o nada.
Assim seja.
¬ lpz
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