Fragmentos do Ivaí

"No carro. O Vale do Ivaí é belíssimo. Um fusca verde na estrada em meio à plantação. Campos verdes, vida organizada, frio de lascar. Estradas bem pavimentadas."

Talvez resida em nós mesmos o receio de trazer à tona a criança que também somos. Nos humanizarmos. Nos permitir simplesmente brincar. Porque se não for imbuído do espírito da brincadeira, o brinquedo de roda é mera sincronização de comandos. Pois o jogo da roda leva a refletir sobre o meu papel em relação aos outros. Me dá a opção de conhecer alguém. Me liga ao coletivo. Nos faz agir coletivamente. O próprio brinquedo demonstra que é necessário um plano. Para superarmos os desafios propostos pelo jogo. Será preciso a dose certa de coragem para nos colocar em ação.

"Quando a caminho das cidades, o sol vai ficando pra trás.Esses caminhões que atravancam o meu caminho, eles passarão, e eu? Passarinho?"

Na roda e dentro dela materializamos a dinâmica entre coletivo e indivíduo. Nosso corpo entra em cena. Deixa pousar sobre ele os arquétipos que compõem o repertório humano. E faz do corpo um lugar seguro para ensaiar os sentimentos. Experimentar sensações. Um lugar onde eu seja reconhecido e entenda que sou apenas parte do contexto humano.

"Ford 53 vermelho."

Sabedoria local.
Senhora, merendeira, Ariranha do Ivaí: “A gente não sabe o que vai precisar.”

"Grandes silos."

Mas como acordar o mistério adormecido dos brinquedos de roda? Evocar a cultura ancestral da formação em roda?

[lpz, durante a Oficina 'Tangolomango - Brinquedo de Roda', no Paraná, em 2010.]