Minhas falas transbordam. Avançam dos meus limites pra me cerzir com o mundo. Não são falas isentas de ação ou emoção. São gritos provenientes das batalhas que travo, são constatações de um mundo vivido. Escrever é virtualidade, mas é ocupar este lugar de litígio na assimetria, é confrontar os bichos que movem o amor de ser humano.
No entanto, cuido pra fazer uso de palavras sem esperanças, porque não nutro expectativas. Não caio nessa armadilha. O mundo é construção. A realidade é seu suporte, é o domínio que parcamente tenho sobre a aparência das coisas. A existência, em sua beleza, sua crueza, seu descaso, seu afeto, seu amor, é tudo o que me atravessa, me envolve, me deforma, me acusa. Minha ausência de lucidez acontece apenas quando teimo em me reformar, cismo em me reproduzir. Isso me deixa triste. Agir e dizer, é que não. Isso é alegria, é poesia.
Aliás, na poesia, minha voz eclode soletrada, musicada, conversada, travada em lutas duríssimas, mas com resiliência, porque não sou besta. Pratico essa resistência maleável que produz palavra escrita, falada e 'fazida'. Por isso, posso atestar, sem hipocrisia, que o que transborda de mim é o que sou no mundo, o que sou do mundo, o que sou, sendo.
¬ lpz
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