O gesto alcança pelo abraço, pelo beijo, pela palavra.
Quando dou preço ao abraço, ao beijo ou à palavra,
esvazio o valor do gesto.
"Favor não se paga", diz o dito popular.
Porque dar a mão é um gesto.
Quem recebe, logo existe.
O dinheiro pode até ser estímulo, mas jamais será gesto.
O dinheiro não substitui o gesto,
porque gesto não tem preço, é afeto imensurável.
Por mais
que eu devolva o dinheiro,
jamais será equivalente
a retribuir o gesto.
A máquina mercante dá preço ao gesto.
Muitos, diante da precariedade da realidade e de seus afetos,
pela
incapacidade de abraçar, beijar ou dizer gratuitamente,
ou curvados pelos sintomas, castigados pela
rudeza de seus destinos,
convertem o gesto em grana.
Maldizem os
endividados com a sentença da insanidade ou da ingratidão.
Assim, o capitalismo forja o mundo e as pessoas.
É um monstro corruptor de desejos,
um ser abominável que estipula a taxa
do que deve ser amado.
Com suas ventas cuspidoras de um véu de rancor,
esconde, sufoca e intoxica o gesto amável.
O perverte ao valor desprezível de coisa que o capital não consegue dar
preço.
Sim, a Arte é um gesto.
Mas, antes,
o gesto é uma arte.
¬ lpz